Uma crise capitalista ou sanitária?

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O economista, Joseph Schumpeter, popularizou o conceito de “destruição criativa”. Segundo ele, o capitalismo é um sistema econômico que apresenta crises sistemáticas.

Esses colapsos econômicos tendem a trazer novas tendências e acabar com tendências antigas.

Para quem não está acostumado com o conceito de capitalismo, darei uma breve explicação. Na minha concepção há duas coisas que sustentam a sociedade como ela é.

A primeira seria o Estado que define as regras através das leis, e a segunda é a economia que aloca os recursos (dinheiro, alimentos, matéria prima, serviços, tudo que é necessário para sobreviver).

O Estado é formado pelos três poderes (executivo, legislativo e judiciário) e a economia funciona sob a ordem capitalista.

O que é o capitalismo?

A palavra tem origem da palavra capital que ao decorrer da história passou a ser sinônimo de “dinheiro” e “investimentos”.

Portanto, podemos concluir que a economia é regida pelo dinheiro, ele é o recurso principal para adquirir outros recursos.

Assim sendo, a economia atual é um sistema com base no dinheiro, por isso, usamos tanto o conceito de capitalismo.

Guarda essa informação, pois ela será relevante para compreender a conclusão desse artigo e como um investidor precisa estar atento e antecipar as mudanças sociais.

Nesse cenário, voltando ao assunto da atual crise, a teoria de Schumpeter, sobre destruição criadora parece se encaixa ao nosso momento atual.

A aceleração da digitalização do mercado de trabalho e de toda a economia, mais as mudanças de hábitos das pessoas devido ao isolamento social forçado.

E, o fator “meio ambiente” também começa a ser o foco, através das práticas de Environment, Social e Government (ESG).

Sendo assim, essas mudanças, são fatos que mostram as novas tendências chegando, e as antigas sendo deixadas.

Só percebemos esses fatos como transformações se lembrarmos que alguns anos atrás, quando as coisas não eram assim, o home office, e a economia digital, eram só possibilidades.

E, grande parte das empresas, fundos de investimentos bilionários e governos não se preocupavam tanto com o meio ambiente, apesar de desde o século passado já existir metas de sustentabilidade.

A imprudência monetária na crise

Além do aspecto sanitário, ambiental e a digitalização no mercado de trabalho, também temos que considerar o aspecto monetário.

O significado dessa palavra é bem intuitivo, e está relacionado diretamente a moeda, sendo específico, a moeda em circulação na economia.

Nessa crise sanitário ocorreu a maior “impressão de dinheiro” na história e da economia.

É um fenômeno que está acontecendo pela primeira vez nessa proporção, são 18 trilhões de dólares na economia mundial, 11 trilhões foram injetados apenas nos últimos 12 meses.

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Fonte.: TRADINGECONOMICS.COM | FEDERAL RESERVE

O gráfico acima ilustra a quantidade de dólar injetado na economia dos EUA, para maior compreensão do impacto desse fato, temos que retomar os conceitos de economia básica.

As leis da oferta e demanda

As leis de oferta e demanda (procura) regem a economia, elas são simples, a lei da oferta diz que quanto maior o valor de um produto/serviço, mais ele é ofertado, pois quem oferta prefere sempre vender mais caro.

E a lei da procura diz quanto maior o valor de um produto/serviço menor a procura por ele, porque, quem comprar, quer sempre comprar mais barato.

A sacada é juntar essas duas leis, porque uma interfere diretamente na outra. Caso ocorrer uma oferta de um produto/serviço maior que a demanda possa absorver.

 O valor desse produto/serviço reduz, porque esse produto está abundante na economia, coisas abundantes tem valor baixo.

Uma forma simples de entender isso, é pensarmos em uma garrafa de água em um deserto, e depois pensarmos nessa mesma garrafa no conforto de nossas casas com uma caixa de d’agua cheia.

Nesse cenário, em um país abundante em água como o Brasil, certamente, a água é até desperdiçada. Por outro lado, ela seria muita mais valiosa em um deserto, pois é escassa e essencial.

Com essa analogia e conceitos claros, podemos aplicá-los ao dinheiro ofertado pelo Estado. Sim, podemos pensar no dólar, real, euro, e outras moedas que são inseridas na economia por seus governos dentro da lógica da oferta e demanda.

O descontrole da oferta monetária na crise

Essas moedas em abundância perdem seu valor, igual a água. Portanto, existe uma quantidade de equilíbrio relativamente adequada de dinheiro que precisa ser mantida em certos momentos da economia.

Se o governo vigente exagerar nessa quantidade pode surgir, um fenômeno chamado “INFLAÇÃO”. A inflação, dentro da lógica dos governos atuais, é um fenômeno inevitável na economia.

Mas pode ser administrada, acredito que já tenha ficado claro que a oferta abundante de dinheiro pode causar a desvalorização dele.

Com isso, o dinheiro acaba valendo menos, e comprando menos produtos/serviços. Em contraste, os preços dos produtos/serviços aumentam de preço, isso é um cenário inflacionário.

Nessa lógica, uma injeção muito grande de dinheiro na economia, pode acabar sendo a deterioração desse dinheiro, e ele pode acabar valendo nada.

E isso já aconteceu muitas e muitas vezes na economia, quem aí lembra da moeda brasileiro, o Cruzeiro?

E está acontecendo nesse exato momento na Argentina, na Venezuela, se 1,35 % ao mês aqui no Brasil já é preocupante.

Imagina 2000 % ao mês de inflação na Venezuela, esse seria o risco do papel moeda. Claro que os países desenvolvidos, são bem mais resiliente nessa questão, a situação de alguns deles é o oposto disso, a deflação.

inflação_venezuela

Fonte.: TRADINGECONOMICS.COM | Banco Central da Venezuela

A revolução do blockchain e a digitalização monetária

Em meados de 2008, foi lançado um sistema chamado blockchain. Sendo sincero, não sou um especialista nesse conceito.

Mas o blockchain é como se fosse uma base de dados descentralizada onde ninguém pode alterar o que já foi registrado nele, no entanto, qualquer pessoa pode ver essa base de registro.

É importante comentar sobre o blockchain e sobre a bitcoin, pois eles são o embrião dos criptoativos ou ativos digitais.

Dessa forma, antes dessa tecnologia, não era possível confiar em “coisas” digitais, porque era mais fácil fraudar e aplicar golpes no meio digital.

Entretanto, com a tecnologia blockchain foi e é possível eliminar a possibilidade de fraudes. O sistema blockchain gerar códigos irreplicáveis e possibilita o registro de propriedade desses códigos.

Essa tecnologia, parece complexa, mas na verdade, não é tão diferente das coisas que já usamos, pois, as imagens, textos e dinheiro que enviamos através de WhatsApp, aplicativos bancários e e-mails.

São enviadas para outras pessoas através de códigos, no entanto, esses códigos podem acabar sendo copiados, manipulados e fraudados de alguma forma, porque a autoridade “central” tem o poder de fazer isso.

Porque a “propriedade” dos códigos que circulam nas redes deles (WhatsApp, Bancos etc.) é deles. Por outro lado, a rede da Bitcoin (Blockchain) é descentralizada e a propriedade dos códigos gerados é dos indivíduos e não de uma autoridade central.

Com isso, podemos especular a possibilidade de uma revolução no sistema financeiro. Já que vamos poder confiar em uma rede de transferências financeiras não vinculada a bancos ou governos.

Assim sendo, o monopólio e poder monetário do governo está sendo quebrado. Esse contexto de crise sanitária (pandemia) acelerou o processo de digitalização da economia e a possibilidade de usar as criptomoedas.

A destruição criadora na crise

Nessas circunstâncias, o dólar, Euro e as demais moedas físicas perderá sua importância e uso? E as criptomoedas vão ser o principal meio de troca na economia?

E a bitcoin é uma ameaça para os governos do mundo? A verdade é que não sabemos. Como disse, as mudanças sociais e econômicas ainda não estão claras.

Mas você lembra daquela informação, sobre a economia atual ser um sistema com base no dinheiro, lembra que pedi para você guarda essa informação?

Portanto, se o dinheiro, o capital, é o fator central da economia, cujo controle de quantidade e emissão é dos governos, logo ele (governo) detém o poder monetário.

Sendo assim, se o governo americano continuar ofertando dinheiro de uma forma que deteriore o valor do dólar, talvez ele deteriore a própria economia.

E é exatamente nesse ponto que o capitalismo pode “quebrar”, pois a sua própria base que é o dinheiro, pode ser inflacionada, e acabar não valendo nada.

Ou também, é nesse ponto que pode acontecer o conceito de “destruição criadora”, onde o capitalismo começa a se adaptar à nova sociedade digital, de preservação do meio ambiente e poder descentralizado.

Acredito que a questão sanitária da covid-19 aproximou e acelerou o capitalismo para uma evolução que uma hora ou outra chegaria.

Dessa maneira, forçando a aceleração de fatores tecnológicos e econômicos. Ao meu parecer, esses dois âmbitos são os principais pontos de transformação social, mas essa evolução, mudança, transformação, não necessariamente é bom ou ruim.

Conclusão

Com isso, estamos em uma crise capitalista ou uma crise sanitária? Eu acredito que não podemos resumir a situação atual em “crise”.

No entanto, a forma que os governos conservam o sistema econômico-financeiro é questionável. Como uma das consequências, foi desenvolvido o blockchain, sistema descentralizado que emite a criptomoeda bitcoin.

As moedas digitais se tornaram um potencial alternativa ao atual sistema monetário, descentralizando o poder da emissão de moeda.

Nesse sentido, não só o comercio, e o mercado de trabalho está se digitalizando, mas a ordem monetária também e a pandemia acelerou esse processo.

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