O dinheiro, é indiscutivelmente, um dos elementos mais importantes da humanidade.
O historiador Yuval Noah Harari escreveu em sua obra Sapiens que “o dinheiro é o mais universal e mais eficiente sistema de confiança mútua já inventado”.
Harari também disse que o dinheiro talvez seja a única história que todos os humanos acreditam.
Logo, Harari parece certo, já que muitas pessoas não acreditam em Deus, ou na bíblia, milhares de pessoas desconfiam de seus governos, falam mal deles. Mas ninguém questiona o dinheiro.
A origem da palavra dinheiro vem do latim “denarius”, era um pedaço de metal de prata muito usado no comercio do dia a dia da Roma antiga.
Por consequência, seu nome se generalizou para todo o “meio de troca circulante”. Ao pesquisar no google a palavra moeda, encontrei diversas origens, e uma delas também se remete a Roma.
A palavra moeda vem de Moneta, sendo esse, um sobrenome da deusa romana Juno Moneta.
Como as moedas eram produzidos em um local que era um antigo templo dessa deusa, os romanos passaram a chamar os metais que eram cunhados nesse local assim.
Dessa forma, não me surpreendo de termos tantas referencias e origens ligadas a Roma antiga.
Já que praticamente toda a civilização moderna ocidental tem base em ideias surgidas em Roma ou na Grécia.
Nesses milênios, a humanidade tem usado diversos tipos de meio de troca, metais, conchas, cacau, trigo.
Entretanto, eram meios de troca regionais ou culturais, um exemplo perfeito, são os Astecas, nativos da América do sul usavam o cacau ou tecidos como meio de troca.
Mas sua sociedade era abundante em ouro, e eles não viam valor nesse metal.
O primeiro sistema monetário internacional
Distintamente dos Astecas, os espanhóis eram fascinados pelo metal amarelo.
E, faziam qualquer coisa pelo metal por azar dos nativos “Latino-americanos”, inclusive escravizar, cometer genocídios e extinguir culturas completamente.
Com o passar do tempo, os europeus passaram a ter influência por todo o mundo. Logo sua cultural de valorização do ouro também foi absorvida por outras civilizações.
No entanto, não é só porque o europeu percebeu valor no ouro, e em outros metais, que eles prevaleceram no tempo como meio de troca.
Também foi porque, o metal é mais durável, maleável e leve, o ouro, e a prata, são fácies de transporta, dividir em pedaços menores para a trocar.
Além de ninguém discordar do seu valor. Por isso, é perfeito para o uso cotidiano. Por conseguinte, mais ou menos 350 anos depois da invasão dos europeus na América Latina em 1500, ou seja, por volta de 1850.
Grande parte dos metais preciosos acabaram se acumulando na Europa. Nesse período, a maior potência comercial e militar era a Inglaterra.
Portanto, ela detinha a maior parte dos metais preciosos. Nesse cenário foi se desenvolvendo o uso do papel moeda.
A origem do papel-moeda conversível
A nota de dinheiro era uma espécie de comprovante ou certificado, carimbado pela autoridade monetária máxima de determinado país.
Esse certificado carimbado representava uma quantidade e comprovava que o detentor possuía essa quantidade de ouro ou prata no banco.
Afinal, é muito mais fácil, prático e seguro andar com um papel no bolso do que um monte de moedas de ouro.
Com o passar do tempo, esse certificado também se tornou dinheiro com lastro/vínculo no ouro guardado no banco.
Logo, ao em vez das pessoas irem no banco para sacar seu ouro e fazer compras, elas usavam seus certificados.
Nessa perspectiva, não eram todos os países que podiam emitir certificados que eram conversíveis em ouro.
Pois, só as principais potenciais possuíam reservas de ouros e prata relevantes para garantir a conversão.
É nesse contexto que é desenvolvido o primeiro sistema monetário internacional, nomeado pelos economistas de “Padrão-Ouro”.
E, por isso, é importante destacar que a Inglaterra era a principal potência e com mais reservas de metais, e prontamente, sua moeda, a Libra esterlina seria a mais fácil de converte em ouro.
Por consequência disso, muitos países queriam ter essa moeda, assim teria mais acesso ao ouro.
E, para isso precisam negociar com a Inglaterra ou com países que detenham Libra e queiram pagar com ela.
A ascensão do dólar
Nessas circunstâncias, você está se perguntando, onde o dólar entra nessa história?
No século XX, os EUA já eram uma economia relevante para o mundo e a Inglaterra começou a entrar em declínio, e piorou mais ainda depois das duas grandes guerras mundiais.
As duas maiores guerras da humanidade, geraram destruição em diversas partes do mundo, principalmente na Europa, mas não nas Américas.
As guerras mundiais
Após a primeira guerra mundial, as principais potências econômicas do mundo, como Alemanha, Inglaterra, França, Itália, Rússia estavam totalmente destruídas, em todos os sentidos.
E, os Estados Unidos, apesar de participarem da guerra, sofreram muito pouco. E ainda estavam financiando essa guerra ajudando a Inglaterra e a França, que junto a Alemanha saíram muito endividados, todas devendo para os EUA.
Além disso, depois da guerra o único país com capacidade produtiva, financeira e comercial para atender todos esses países também eram os EUA.
Nessa lógica, apesar da Tríplice Entente (França, Reino Unido e Rússia), saírem vitoriosas da primeira grande guerra, na verdade, o verdadeiro ganhador foram os Nortes Americanos.
Logo, nessas circunstâncias, as reservas de ouro acabaram se acumulando nos Estudos Unidos da América, elas praticamente dobraram posteriormente a guerra, conforme dados da tabela acima.
E, por isso que “a grande depressão econômica” que aconteceu 1929 nos EUA, 10 anos depois do fim da I guerra, foi tão intensa para o resto do planeta.
Pois, todas as economias mais importantes do mundo ainda estavam dependentes e ligadas aos EUA, origem dessa crise.
Como se não bastava essa conveniente circunstância da 1º guerra, positiva para os EUA, ainda temos a segunda guerra mundial.
Essa guerra, mais uma vez se origina na Europa, e depois de alguns meses teve a entrada dos Nortes Americanos.
E, o fim desta foi semelhante a anterior em alguns aspectos, os países Europeus aumentaram sua dependência dos Estados Unidos que emprestou mais dinheiro para eles.
No final dessa guerra, ocorre os acordos de Bretton Woods. É aqui que o dólar começar a ganhar mais relevância.
O acordo tem esse nome porque aconteceu na cidade de Bretton Woods, New Hampshire, nos Estados Unidos.
Acordos de Bretton Woods ou a jogada de mestre dos EUA
Esse contrato foi internacional e definiu diversas regras de como a economia mundial iria funcionar após a conclusão da guerra, e como os EUA era o único país influente intacto nesse período, ele se aproveitou disso.
Das diversas regras definidas nesse acordo, vou ressaltar somente uma, pois ela foi fundamental para a dominância do dólar até os dias de hoje.
A conferência de Bretton Woods definiu que os países deveriam declarar a paridade de suas moedas em relação ao ouro, porém apenas as moedas que fossem conversíveis em ouro assumiriam o caráter de moeda internacional.
É qual era o único país com reserva de ouro suficientes para manter sua moeda conversível em ouro? Acredito que não preciso responder.
Se na primeira guerra, grande parte do ouro foi parar nos EUA, porque todos os países que tinham reservas relevantes desse metal estavam devendo para os Americanos, na segunda guerra, essa migração do ouro continua.
Nesse cenário, os Estados Unidos já eram a economia dominante no mundo a décadas. Devido a situação, agora eles também possuíam a moeda dominante.
Com isso, antes os países precisavam segurar a Libra esterlina para poder trocar por ouro. Pois, o Reino Unido possuía a maior parte do ouro.
Nesse sentido, agora a moeda que tem essa capacidade, é o dólar americano, porque os EUA detêm a maior parte do ouro.
Em suma, é por isso que um pedaço de papel carimbado tem valor. As pessoas e países do período sabiam que podiam trocar determinado papel por ouro.
O desapego pelo metal amarelo
Desse jeito, o mundo começa a se apegar ao dólar. E, os países começam a segurar, guardar e constituir reservas em dólar. Porque, ela se tornou a única moeda conversível em ouro.
Por conseguinte, ela passou a ser a moeda mais usada no comercio mundial, portanto, exportar era uma das formas de acumular dólares.
Os acordos de Bretton Woods têm seu fim em 15 de agosto de 1971. A lógica por trás do papel-moeda.
Seja ela o dólar válido pelo EUA, seja ela a Libra validada pela coroa inglesa, é que você pode trocar uma determinada quantidade dela, por ouro.
Desta forma, a quantidade de papel-moeda em circulação na economia deve ser equivalente a quantidade de ouro estocado, certo?
Caso ao contrário, como os bancos poderia garantir a conversão da cédula em ouro.
Na teoria, o banco só emitia cédulas de dinheiro, se suas reservas de ouro aumentassem. E caso os estoques desse metal reduzissem, a quantidade de cédulas em circulação deveria reduzir também.
Nesse sentido, o problema é, como os bancos americanos iriam saber se a quantidade de cédula em circulação era correspondente, equivalente e conversível a quantidade de ouro estocado naquele momento.
Com os acordos de Bretton Woods, o dólar americano passou a ser usado por diversos países, e pessoas.
E, em milhões de transações. Sendo assim, seria impossível para os bancos e governo de os EUA saberem isso.
Por consequência, na verdade, o acordo de Bretton Woods nasceu fadado ao fracasso.
A era das moedas fiduciárias ou a era do dólar
Com o fim do acordo de Bretton Woods anunciado pelo presidente do período, Richard Nixon. Os Estados Unidos da América não eram mais obrigados a converter o dólar em ouro.
Logo, seria normal pensar, agora ninguém mais vai querer usar dólar. Porque, os países só confiavam no dólar, por ele ser, conversível em ouro.
Entretanto, os países e as pessoas continuaram usando dólar. A palavra fiduciária deriva da palavra Fidúcia, e após uma pesquisa rápida no google, encontrei o significado dela.
Sendo ele – “é uma palavra que vem do latim, que significa confiança, segurança, lealdade, em que se credita boa-fé”.
Nesse cenário, o que mantinha o valor e utilidade do dólar, era a fé, porque na teoria, a moeda norte-americana não era conversível em nada que tenha um valor universal como o ouro.
No entanto, não é bem assim. Os países e as pessoas não continuaram usando o dólar por boa-fé, estaria sendo raso nesse artigo se falasse que o dólar é importante, porque as pessoas tem fé nele.
Assim sendo, existe sim, outros fatores que conservaram a credibilidade do dólar naquele período e ainda conservam.
O primeiro é, muitos países já tinham imensas reservas de dólar, como eles iriam se livrar de tudo? Eles iriam trocar pelo que?
Além disso, diversas nações relevantes para a economia mundial, também estavam endividadas em dólar. Nessas circunstâncias, para pagar a dívida, é necessário ter dólares.
Portanto, era mais fácil ficar com o dólar já que os EUA ainda era a maior potência do mundo.
O dólar com lastro no petróleo? Nascem os petrodólares
Com isso, você ainda poderia negociar com eles, você e os países ainda poderiam comprar coisas com dólares.
Afinal naquele período, eles tinham a economia mais produtiva do mundo. E, vários países precisam importar coisas dos Norte-Americanos.
E, os Americanos só aceitavam dólar, é claro. Nessa lógica, por ter uma economia produtiva e que comercializava com muitos países, o dólar continuou sendo a moeda dominante na economia mundial.
O segundo fator, está associado com o acordo feito em paralelo com o fim de Bretton Woods.
Por volta de 1975, outro acordo entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita (umas das maiores exportadoras de petróleo do mundo), deram origem aos petrodólares.
O petróleo é uma das commodities mais importantes para humanidade, ele é usado para fazer uma infinidade de coisas, como gasolina e plástico.
E sim, em resumo, os maiores exportadores de petróleo do mundo, passaram a aceitar apenas e exclusivamente o dólar em troca de proteção militar fornecida pelos EUA.
Nesse cenário, o governo americano, tentou lastrear sua moeda em outra commodities valiosa para a sociedade.
Basicamente, podemos dizer que “ele trocou o lastro pelo ouro, pelo lastro com o petróleo“. Mas voltando as informações de Yuval Noah Harari.
Sobre o dinheiro ser o sistema de confiança mútua mais eficiente inventado. Nessa lógica, a moeda mais confiável do mundo é o dólar.
Dessa forma, o que sustenta essa confiança, é (I) um cano de fuzil, (II)um barril de petróleo, e (III) muito produtividade e inovação tecnológica.
Esses três pilares, também são uma forma de lastrear uma moeda, são pilares que o Brasil ainda não possui, mas o dólar possui, por isso, todos confiam e aceitam o dólar, por isso, ele é tão importante.
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